Publicado em: 07/03/2013
Apenas 16 anos e uma passagem para estudar na Espanha. João Pedro Estevão Vasconcelos Martins, recém-formado como bolsista pelo Centro Educacional Leonardo da Vinci, é exemplo de superação. Com uma história de vida marcada por dificuldades, João abraçou as oportunidades e provou que os obstáculos da vida são pequenos, quando existe força de vontade.
Nascido em Brasília, morador da Ceilândia, João começou os estudos em escola pública. Com muita luta e determinação, sua mãe, Rosalva Estevão de Vasconcelos Martins, vigilante de órgão público, conseguiu matriculá-lo na Fundação Bradesco, lugar no qual ele estudou da 6º a 7º série. Preocupada pelo filho, na época com 12 anos, ter que estudar no período noturno a partir do 1º ano do Ensino Médio, Rosalva começou a peregrinar escolas particulares, a fim de conseguir uma bolsa de estudos para que João Pedro continuasse tendo um estudo de qualidade.
Foi aí que Rosalva conseguiu uma bolsa para o filho no Centro Educacional Leonardo da Vinci, da Unidade Taguatinga. João Pedro, mesmo tímido, não teve dificuldades para se adaptar na escola. “No início, fiquei um pouco receoso, mas fiz várias amizades, as quais preservo até hoje”, conta. Sua família sempre o incentivou e investiu em seus estudos. “Já tivemos muitos contratempos, mas nem por isso deixei de procurar o melhor para meu filho. É uma obrigação minha. Ainda mais que ele sempre foi muito esforçado, muito responsável. Nunca foi de faltar aula”, orgulha-se a mãe.
Os resultados de tanto esforço não tardaram. João Pedro, ainda no fim do primeiro semestre do 3º ano, com apenas 15 anos, passou no vestibular da UnB para Relações Internacionais. “Ainda tentamos matriculá-lo na universidade, mas fomos convencidos de que ele tinha capacidade para passar de novo, no fim do ano”, lembra Rosalva.
E não deu outra. O resultado do último PAS foi divulgado e lá estava o nome de João Pedro mais uma vez, também para Relações Internacionais. As recompensas não pararam por aí. “Fiz o ENEM e passei na UFRJ pelo SISU. Também me inscrevi no Prouni para Relações Internacionais, mas só para saber como me sairia, porque não tinha pretensão de ir para uma universidade particular. E eu sonhava mesmo era com a UnB”, revela o garoto.
Com uma nota surpreendente no ENEM, João Pedro foi um dos 10 selecionados em todo o Brasil para estudar Ciências Políticas e Administração Pública, em Salamanca, na Espanha, pelo período de quatro anos. “É uma parceira do Ministério da Educação (MEC) com o Santander. Eles selecionam dois alunos por cada região do país e eu fui um deles. Recebi a ligação do MEC cerca de duas ou três semanas antes do resultado do PAS, pesquisei sobre o programa e vi que era sério”, vibra.
Prestes a embarcar para Espanha, João Pedro conta que mal conhece o litoral do país e nunca viajou de avião. “Estou muito ansioso. A minha primeira viagem grande vai ser para a Europa, vou aprender outro idioma, conhecer uma nova cultura, novos valores. Às vezes, nem acredito”, anima-se.
Questionado sobre abrir mão de Relações Internacionais na UnB, João garante que não ficará frustrado e que a oportunidade é única. “Lamento um pouquinho, mas já olhei a grade de Ciências Políticas e vi que há muita semelhança com a de Relações Internacionais”. Com o sonho de ingressar no Instituto Rio Branco, ele espera adquirir conhecimento suficiente no curso em Salamanca, a fim de seguir carreira diplomática. “Caso eu não consiga, quando voltar, prestarei vestibular para Relações Internacionais de novo”, conta.
Rosalva comemora as conquistas do filho e diz que é sempre surpreendida. “Ano passado, quando ele passou no vestibular, eu quase não acreditei. Agora, ele ganha essa bolsa para estudar na Europa. Tudo parece um sonho”. Mesmo esbanjando orgulho e felicidade, ela não esconde a preocupação. “Meu filho, menor de idade, vai para o outro lado do mundo, sozinho. Às vezes, fico mais preocupada do que emocionada. Reconheço que é uma oportunidade maravilhosa e, talvez, única, mas esse sentimento de aflição é inevitável. Fora a saudade que eu vou sentir”, confessa.
Orgulhosa ao falar de João Pedro, Rosalva acrescenta que seu sonho é o melhor para o filho. “Quero que ele seja feliz. Ele tem asas e quero que ele voe o mais alto que puder. O que eu tinha de ensinar, já ensinei, que são os princípios essenciais, como ser um homem íntegro, honesto e respeitar o próximo. Também não espero ser gratificada materialmente, porque só fiz o meu papel de mãe”, finaliza.