O medo do vazamento de informações sobre a prova ainda ronda alunos de todo o Brasil. Em coletiva, ministro Aloizio Mercadante diz que novo sistema eletrônico será usado para que os malotes com os testes não sejam violados.
Publicação: 22/10/2013
Para evitar fraudes, o Ministério da Educação decidiu ampliar o uso de cadeados eletrônicos com GPS nos malotes que contêm as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Este ano, diferentemente da última edição, quando apenas um quinto dos malotes recebeu o cadeado eletrônico, todos 63.340 malotes estão lacrados com o dispositivo. A medida do governo federal, anunciada ontem em Brasília, é uma das estratégias adotadas para tentar garantir a segurança das provas e evitar que episódios como o de 2010 (ver Memória) — quando o tema da redação vazou horas antes da avaliação — se repitam.
O cadeado eletrônico com o GPS vai informar o exato momento em que os malotes com os exames foram abertos. “Para termos um controle rigoroso do sigilo da prova”, explicou o ministro da Educação Aloizio Mercadante, em entrevista coletiva na tarde de ontem. Mercadante informou ainda que as provas já chegaram aos estados, onde aguardam distribuição. As avaliações estão protegidas com suporte das Forças Armadas e da Polícia Federal. Cerca de 660 mil profissionais trabalharão nas provas, cuja aplicação ocupará 15 mil salas em todo o país. “Nós estamos bastante seguros, aprimorando nossa metodologia de controle e segurança ano a ano. Risco sempre existe, numa prova desse tamanho”, observou o ministro.
Os alunos avaliados pelo Enem também não ficam alheios à importância de se ter um exame transparente. A preocupação com a segurança da prova é um dos pontos analisados pelos jovens com a aproximação do grande dia. Muitos, inclusive, enxergam a questão como a contrapartida do governo. “Eu me preparei fazendo provas dos anos anteriores, pesquisando na internet, com simulados e materiais complementares, e conto que a prova seja segura. Mas só me resta fazer a minha parte”, observou Pedro Henrique Suruagy Terruci, 17 anos, aluno do terceiro ano do ensino médio.
O medo é dividido entre os estudantes. “Já houve vários casos (de fraude). Um que eu me lembro foi de uma pessoa que levou telefone com escuta e acabaram concluindo que a prova foi fraudada. Isso desestabiliza totalmente quem está fazendo o exame. Compromete a nossa concentração porque ficamos preocupados”, afirmou a brasiliense Isabella Mirindiba Bonfim, de 17 anos, também do terceiro ano do ensino médio.
Em agosto deste ano, o professor Jahilton Jospe Motta, 59 anos, foi condenado pela Justiça Federal no Ceará a seis anos de prisão pelo vazamento de questões do Enem, em 2011. O professor de física e coordenador pedagógico do Colégio Christus, em Fortaleza, foi acusado de divulgar 14 questões do exame aos alunos, em um pré-teste, uma semana antes da aplicação da prova nacional. Ele foi condenado pelos crimes de comprometimento de conteúdo sigiloso de concursos públicos e estelionato. Na época, o Ministério da Educação anulou todas as provas dos estudantes do colégio, que tiveram que refazer o Enem.
Experiência
Segundo Eduardo Guerra, coordenador psicopedagógico de uma escola do Distrito Federal, os centros de ensino têm conhecimento da dificuldade de logística do exame por conta de diversos fatores, como a grande diversidade de culturas e o tamanho do Brasil. No entanto, o grande fator de risco é o tempo de experiência do Enem, contados a partir de 2009, quando foi implementado o novo modelo de exame.
Para o professor, o tempo será determinante para que o Enem seja tido como seguro. “Há esforço para se ter um banco de questões consistentes porque, a partir daí, a preocupação com vazamento de informação, por exemplo, dilui. Também existe um trabalho para valorizar o exame, evitando essas desconfianças, mas a sociedade não está esclarecida. A experiência trará esse know-how”, explicou.
Memória
2009
O calendário do certame foi alterado depois de uma cópia da prova ter sido furtada da gráfica onde o material estava sendo impresso e vazada para alguns jornais.
2010
Alunos identificaram erros no caderno de perguntas e no gabarito. Também houve o vazamento do tema da redação duas horas antes do exame por uma mulher escalada para aplicar a prova. Ela avisou o marido, que pesquisou o tema e passou as respostas para a filha.
2011
Por causa de um erro técnico, um estudante conseguiu mudar a nota da redação de 0 para 880, depois de acionar a Justiça. O vazamento de questões de um pré-teste, que foram usadas no material acadêmico de uma escola de Fortaleza, também manchou a credibilidade de exame.
2012
A polêmica deu-se em torno dos critérios de correção das redações. Atendendo uma exigência do Ministério Público, o Ministério da Educação disponibilizou o espelho da redação aos candidatos. Textos contendo erros crassos de português e deboches explícitos — e que mesmo assim receberam nota máxima — começaram, então, a circular nas redes sociais.
Fique ligado
DATAS E HORÁRIOS
» O Enem será realizado
em 26 e 27 de outubro,
a partir das 13h
» A abertura dos portões está marcada para as 12h,
e o fechamento,
para as 13h
CONTEÚDO
» Serão quatro testes objetivos, com 45 questões cada, e uma redação. Confira o conteúdo de cada um dos dois dias de exame:
26 de outubro: Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias (o tempo para fazer a prova é de 4h30)
27 de outubro:
Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Redação e Matemática e suas Tecnologias (o tempo para fazer a prova é de 5h30)
RECOMENDAÇÕES
» Verifique com antecedência o local de prova
» Faça o trajeto até o local antes do dia do exame, para ver o caminho e o tempo que leva para percorrê-lo
» No dia da prova, chegue até as 12h para evitar atrasos
Fonte: Eu, estudante