Aprendendo a aprender
Professores somam conhecimentos empírico e prático para despertar nos jovens a vontade de estudar. Fazer entender que os ensinamentos passados em sala de aula não acabam na escola é um dos principais desafios dos educadores
Computador, tablet, celular. Toda tecnologia disponível para que o jovem tenha todas as informações necessárias ao aprendizado. Mas junto com os ensinamentos úteis vêm também as distrações das redes sociais, jogos e atividades de diversão típicas dos adolescentes. Como despertar nesses estudantes o gosto pelos estudos? Desviá-los desse fascinante mundo virtual seria a solução ou melhor seria mergulhar com eles para trazê-los de volta?
Na busca pela atenção dos jovens, professores usam a criatividade para incentivar a vontade de estudar. “A escola por intermédio do professor, no seu trabalho pedagógico, pode encantar o aluno, é nessa premissa que devemos nos basear, pois as motivações anteriores não competem à escola. O professor precisa vestir a camisa de um artista, alguém que canta, encanta, comove, convence, seduz e ajuda o aluno em sua trilha pelo conhecimento”, detalha Daniel Mattos Escobar, professor de matemática do Centro Educacional Leonardo da Vinci.
“A minha função enquanto professor é gerar conhecimento, fazer com que as informações façam sentido, procuro usar a maior arma que a matemática possui, a lógica. Faço música quando vejo que isso ajuda a memorizar uma informação importante, como por exemplo a fórmula de Bháskara”, explica.
Entrar no ambiente tecnológico dos adolescentes também pode ajudá-los. Incutir a busca do conhecimento é uma das premissas da instituição. Escobar usa do bom humor para atingir esse objetivo. “Eu incentivo a curiosidade! Estudo outras matérias para deixar minha fala interessante. Uso vozes, imito pessoas, uso de Chico Anísio, muitos personagens em uma só pessoa. Faço o aluno sorrir, nada é tão poderoso para motivar quanto o próprio sorriso”, conta.
Atividades além das salas de aula transformam o conhecimento em algo interessante. O professor Escobar disponibiliza aulas no Youtube, aplicativos como o Geogebra, Cabri geometre e até o xadrez. “É o jogo em que temos que desenvolver a jogada futura, descobrir o que o adversário vai fazer, a matemática também é um jogo, com regras definidas e que devemos pensar sempre no próximo passo”, conta o mestre.
“O Danimattt [contração de Daniel e matemática], como é conhecido pelos alunos, tenta nos ajudar para o que vamos fazer além das aulas. Fala muito que o importante não é passar de ano, mas tirar uma aprendizagem da escola e levar para a vida. Ele tem várias formas de explicar a matéria, de um jeito mais fácil”, conta Marcelo Netto Souza Filho, aluno do 2º ano do ensino médio do Centro Educacional Leonardo da Vinci. “Até musiquinha ele cria para ajudar a decorar fórmula. Na hora da prova, fica bem mais fácil de lembrar. A fórmula do delta e Bháscara, por exemplo, ele canta: b (quadrado) menos 4ac, iaiaó”, diverte-se.
Joseane Borges da Rosa orientadora educacional da 1ª série do ensino médio do Centro Educacional Leonardo da Vinci, explica que o projeto ‘Hábitos de Estudo’, incentiva o aluno a não estudar apenas para a escola mas para adquirir o conhecimento para a vida e aprender realmente. “O aluno vai fazer o seu dever e depois estudá-lo. Com isso ele participa mais da aula e entende melhor o que está se passando na aula. O não conhecimento é que o distrai. O jovem precisa gostar do que está estudando para sentir prazer em aprender. Nós ensinamos de outra forma. Tirar boas notas é apenas uma consequência”, explica.
O colégio Sigma também traz nas atividades extraclasse a intenção de despertar o interesse pelo aprendizado. No Sigma Mundi, durante três dias, alunos participam de simulações de organismos internacionais, como a Organização da Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Mundial do Comércio (OMC); na Semana de Arte Moderna, projeto em homenagem à Semana de 1922, estudantes da 3ª série do ensino médio fazem releituras das obras de grandes mestres da arte moderna brasileira, como Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade; no projeto Anjos do Sigma, voluntários ensinam uma lição muito valiosa. “Doar um pouco de si faz muito bem. O projeto promove visitas de alunos a creches, asilos e abrigos”, informa Marli Pinheiro, diretora pedagógica do Sigma.
“As atividades extracurriculares ajudam o aluno a assimilar o conteúdo de sala de aula e a desenvolver melhor o seu potencial em áreas específicas, além de contribuir para sua socialização. Os trabalhos extras reforçam, na prática, os conteúdos trabalhados em sala de aula”, explica.
A arte de ensinar
Lecionar não é uma função puramente técnica. A faculdade ensina as premissas e a maneira correta de fazer aulas e transmitir conhecimento, mas como despertar nos jovens o interesse em aprender vai depender da criatividade e experiência de cada mestre. A professora Camilla Yoshico Shimabuko Osiro ensina literatura para o ensino médio no colégio Galóis de uma maneira diferente. “Aula de literatura não desperta muito interesse nos alunos. Com a tecnologia tudo fica ainda mais difícil. Eu tenho que fugir da aula convencional”, esclarece.
Com aulas dinâmicas, Camilla, leva os jovens a uma viagem no tempo. “Desde pequena eu sempre gostei de contar histórias. Explico tudo sobre o livro como se estivesse dentro das narrativas. Uso técnicas de teatro e a cada minuto da aula eu entro em um personagem da época e tento explicar dessa maneira”, conta.
A interatividade e a modernidade se misturam com fatos históricos e elementos literários para trazer de forma prática a cultura e arte para a vida do jovem. “Não é por que ensino literatura que não estou antenada com o moderno. Cada aula acontece de uma maneira diferente. Levo um pedaço do livro e relaciono com as redes sociais e os fatos da vida deles. Com isso, os aluno acabam se interessando e lendo o livro inteiro”, explica a professora que também aposta nas atividades extraclasse para reforçar suas lições.
“Faço aulas para declamação de poesia; ano passado, começamos um jornal e um sarau. Trabalho também o clube do livro e nada disso é obrigatório. Os jovens percebem que sentem falta de um coisa que nem sabiam que existiam”, conclui.
Fonte: Jornal da Comunidade (Edição de 09/11/2013 )