De cada 30 jovens em sala de aula pelo menos um apresenta Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), segundo dados do Centro de Orientação Médico Psico-Pedagógico (COMPP), da Secretaria de Estado de Saúde do DF. Por conta desse contexto, as escolas têm buscado adequar o ensino, com uma metodologia específica, aliada ao acompanhamento familiar, para facilitar a aprendizagem de alunos diagnosticados com o transtorno.
O jovem Ygor Oliveira de Almeida, 18 anos, se soma a essa estatística. Após ter repetido a primeira série do Ensino Médio, Ygor foi em busca de ajuda. Após vários exames, ele foi diagnosticado com o déficit. A partir daí, a luta foi para que o jovem tivesse a mesma interação nos estudos que tem na vida social. Não foi difícil. Ele mudou para uma escola que pudesse dar um acompanhamento diferenciado, com técnicas próprias, inclusive de aplicação de provas. Ygor explica que as provas do Centro Educacional Leonardo da Vinci, onde estuda, são elaboradas para atender alunos que tenham o mesmo perfil de déficit de atenção e hiperatividade.
"As provas são desmembradas para que possamos escolher a ordem em que faremos a prova. Os textos são mais curtos e diretos, com menos contextualização e temos um horário estendido para fazer revisão nos intervalos entre uma prova e outra", conta. São de 15 a 20 minutos destinados a essa revisão, o que contabiliza 1h30 a mais para fazer a prova. Para Ygor, essa dinâmica reflete no resultado das provas.
E descobrir que o problema não era uma falha do estudante ajudou a fortalecer a autoestima desse jovem brasiliense, que sonha longe. Ygor passou, ainda na 2ª série do Ensino Médio, para o curso de Odontologia da Universidade Católica, em Brasília (DF). "Sempre tive muita dificuldade nos estudos, mas o aluno tem que se autoconhecer e desenvolver uma metodologia própria para lidar com o déficit de atenção", afirma.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os jovens de 0 a 19 anos representam 30% da população de Brasília. Destes, 5% são diagnosticados com TDAH – sem contar o Entorno do Distrito Federal. Segundo a analista do comportamento, coordenadora do curso de graduação do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Laercia Abreu Vasconcelos, o déficit pode ser um comportamento temporário ou até de uma duração intermediária estabelecida no repertório de qualquer pessoa.
Segundo a analista, o déficit pode atrapalhar no acompanhamento de instruções longas, ou outras demandas que requerem resultados específicos como na matemática. A compreensão das relações existentes entre eventos discutidos em disciplinas como a geografia e a história também é dificultosa. A especialista acredita que, em vez de fazer intervenções rápidas e uniformizadas para tantas variações, é preciso desenvolver um contexto favorável ao aluno. Inserir os pais e oferecer alternativas de participação na rotina estudantil. “O importante é traçar novas estratégias em um contexto de estudo, que passou a ter várias demandas no século XXI”, destaca.
Laercia Abreu Vasconcelos afirma que o melhor caminho é o processo gradual de aprendizagem com reconhecimento das dificuldades, respeitando o ritmo de cada aluno. “Temos que reconhecer os trabalhos desenvolvidos por diversas escolas como o Centro Educacional Leonardo da Vinci, que buscam essas alternativas”. No entanto, a especialista alerta que o déficit não pode necessariamente indicar problema neurológico ou físico sem uma análise completa e continuada e sim, a princípio, algo comportamental.
Para ter acesso a esse acompanhamento diferenciado dentro de sala e na hora da prova, os alunos do Centro Educacional Leonardo da Vinci têm que apresentar um relatório de acompanhamento médico de quatro em quatro meses. De acordo com a orientadora educacional Sandra do Couto, o acompanhamento na escola é feito por meio do contato constante com os pais, professores e alunos. "Existe uma sala adequada onde os estudantes necessitam do atendimento diferenciado fazem as provas", explica.