Em palestra a 400 alunos, a ambientalista ressalta a importância do consumo consciente e do comprometimento dos jovens com o futuro do planeta.
Desenvolvimento sustentável. Foi com esse tema que alunos do Centro Educacional Leonardo da Vinci começaram a semana. A presença da ambientalista Marina Silva na Unidade Taguatinga despertou temas sensíveis à juventude: o consumismo e a relação com o meio ambiente. A ex-ministra do Meio Ambiente fez palestra para cerca de 400 estudantes na manhã desta segunda-feira, dia 28. Eles escutaram atentamente as palavras de otimismo de Marina, ainda que em debates de temas polêmicos do cenário político nacional.
Florestas em processo de desertificação; mananciais e recursos hídricos poluídos e ameaçados; perda crescente de biodiversidade; mudança climática. A realidade enfrentada pelo planeta é grave. “É ruim falar isso para um auditório lotado de jovens. Mas não o falo por mal. Temos que entender que o futuro comum do planeta é responsabilidade de todos nós”, ressalta. Para Marina Silva, é possível reverter o quadro. Primeiro, é necessário mudar a percepção de que, para o país se desenvolver, é preciso produção e consumo desenfreados. O desenvolvimento sustentável é sim uma saída viável, segundo a ambientalista. “Devemos produzir e consumir na medida certa, para atender nossas necessidades sem comprometer o direito dos que ainda não nasceram”, afirma Marina.
O desenvolvimento sustentável é o grande desafio do século, defende a ex-ministra. E para isso, é necessário mudança de postura de todos os indivíduos da sociedade, desde o governo, indústrias e empresas, até atitudes rotineiras de cada cidadão. Viver de maneira sustentável, segundo ela, é trazer para o dia a dia atitudes práticas, como economizar água enquanto se toma banho, se escova os dentes e se lava louça. “É promover o transporte solidário, dar carona aos amigos que moram por perto. É também fazer um programa na comunidade local, mobilizar moradores para que fiquem atentos se empresas, fábricas e instituições locais estão poluindo o meio ambiente. Desenvolvimento sustentável é não comprometer o futuro da vida”, explica.
Consumo consciente
Quem deu início à palestra foi o estudante Daniel Bizza, 14 anos, que cursa o 9º ano do Ensino Fundamental na Unidade Taguatinga. Daniel é um dos dez integrantes do projeto Ecovinci, que trata sobre sustentabilidade no colégio, e foi o grande idealizador da palestra de Marina. Para o jovem, o consumo desenfreado é um dos principais causadores da destruição do planeta. “O consumismo gera pobreza e desigualdade social, segmenta a sociedade e faz com que 1,5 bilhões de pessoas, por exemplo, não tenham acesso à água”.
Marina Silva concorda com a posição do estudante. Para ela, é preciso mudar a percepção do que é desenvolvimento. “Usamos como indicador de felicidade a capacidade de ter e ter cada vez mais. Esse é o risco, porque somos ilimitados no desejo de almejar coisas. E se forem sempre coisas materiais, o planeta não dará conta do nosso desejo”.
Porque não mudar a ideia dos chamados bens posicionais, que dão status, usados apenas para se exibir? A ex-ministra propõe que as pessoas se ‘exibam’ para o coletivo: usem bicicleta e transporte público pelo bem comum, por exemplo. “Há limites para bens materiais. Mas não há limites para ser inteligente, criativo, bondoso, honesto. Isso é que deveria ser valioso na sociedade”, defende.
O grande desafio, para Marina Silva, é consumir de forma consciente. Saber a procedência do produto que se compra é importante: investigar se o móvel é feito com madeira de desmatamento, se a roupa foi fabricada com mão de obra escrava. Devem-se agregar valores intangíveis aos produtos, além de apenas julgá-los pelo status, ou pela beleza. “Será que foram construídos de forma ética, respeitando a natureza e a vida?”, Marina propõe essa reflexão a todos os jovens.
Aliás, a ambientalista atribui aos jovens a responsabilidade de lutar por um mundo socialmente justo, politicamente correto e ambientalmente sustentável. Ela se intitula ‘mantenedora de utopias’. “Procuro manter a capacidade dos jovens de sonhar. A juventude tem que ser sonhadora, tem que acreditar criando circunstâncias, com atitudes. Os jovens não precisam ser pragmáticos”, diz a ambientalista que até os 16 anos era analfabeta e que hoje, aos 54, já foi eleita vereadora, deputada estadual e senadora. “Essa luta é de vocês”, diz aos estudantes presentes na palestra.
Daniel Bizzo é um exemplo dessa juventude engajada e comprometida com a sociedade. “Quero ser como Marina Silva, promover o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável para a minha geração e para as que virão”, diz satisfeito ao ver que todo o auditório escutou atentamente a ambientalista por duas horas seguidas.
Ecovinci
Dez alunos do Centro Educacional Leonardo da Vinci participam do grupo de pesquisa Ecovinci – Construindo a Consciência da Sustentabilidade. Eles buscam o debate sobre a temática socioambiental dentro e fora da escola. O projeto faz parte do Programa de Iniciação Científica Júnior (PIC Júnior), realizado em parceria com o UniCeub.
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