De caráter voluntário, prova não gera resultados precisos e não deve ser referência para pais e alunos no momento de decidir sobre escolas
O Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) vem implementando mudanças e dividindo opiniões desde sua criação, em 1998. A proposta do Ministério da Educação tem como principais objetivos democratizar as oportunidades de acesso às vagas federais de Ensino Superior, possibilitar a mobilidade acadêmica e induzir a reestruturação dos currículos do Ensino Médio.
De caráter individual e voluntário, o exame é realizado todos os anos e se propõe a avaliar a capacidade de raciocínio do aluno, que deve estar apto a aplicar os conceitos que aprendeu no Ensino Médio nas chamadas situações-problema. O que, na opinião de alguns, deixou de acontecer quando a prova ganhou a função de um vestibular.
O Enem ganhou maior popularidade em 2004, quando o Ministério da Educação (MEC) instituiu o Programa Universidade para Todos (ProUni), e vinculou a concessão de bolsas em instituições de ensino superior ao desempenho no exame. Outro grande incentivo foi a decisão de universidades públicas e particulares de levarem em conta a pontuação do Enem em seu processo seletivo de admissão. Só no ano passado, cerca de 83 mil vagas em instituições públicas foram disputadas diretamente com base na pontuação da prova por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
A prova do Enem avalia, sobretudo, habilidades gerais dos alunos que estão concluindo o Ensino Médio. Ao invés de cobrar conteúdos específicos, como no tradicional vestibular, o exame analisa a capacidade de leitura, interpretação de texto e a aplicação de conceitos dos estudantes.
“Uma primeira questão é entender que hoje o Ensino Médio é fundamental”, brinca com o trocadilho a doutora em Educação Wanda Engel. Para ela, o país não tem uma avaliação precisa do seu Ensino Básico, o que não atende às novas demandas sociais e do mercado de trabalho.
O Enem foi proposto inicialmente para aferir a capacidade de raciocínio dos alunos, na tentativa de diminuir as desigualdades entre estudantes de escolas públicas e particulares. O modelo, no entanto, tem se mostrado muito mais eficiente para medir o nível de leitura e interpretação de textos dos candidatos do que o raciocínio. A habilidade leitora é muito mais desenvolvida pelas classes mais privilegiadas, que possuem acesso maior à escolarização e a bens culturais.
Na opinião da especialista, o Brasil tem dois importantes exames que não cumprem o papel de aferir a performance do modelo de educação, por serem provas voluntárias e de amostragem. “Ou o MEC cria um exame extensivo a todos ou cria um exame obrigatório”, sintetiza.
Muito tem sido dito sobre o exame do ensino médio, mas ainda faltam definições concretas, o que tem causado confusão em estudantes, pais, professores e profissionais da área. Uma das distorções mais frequentes ocorre quando a nota dos alunos no Enem serve de base para a criação de rankings de escolas. “Essa prática tem criado uma dicotomia: o Enem avalia o nível de quem sai do Ensino Médio ou de quem entra no Ensino Superior?”, questiona a professora.
O Enem foi pensado para avaliar os alunos, e não as escolas. Interpretar as notas dos alunos como se fossem das escolas pode causar distorções. Um dos problemas é que o Enem é um exame facultativo, apesar de muita gente fazer a prova (70% dos alunos do Ensino Médio, segundo estimativas). Se pensarmos que só os melhores alunos é que prestam o exame, que são as pessoas que pretendem entrar na universidade, isso vai dar uma informação deformada. Ou seja, aqueles que são piores, que têm a pior formação e que não vão se candidatar à universidade não fazem a prova. Portanto, essa amostragem não serve como parâmetro.
Fonte: G1