"A Olimpíada é um tema transversal, porque se apropria de muitos outros assuntos de interesse além do esporte."
Aprendizado com diversão. Quem se dispõe a assistir aos Jogos Olímpicos de olhos atentos não apenas na competição, mas em tudo o que ela envolve, pode aprender muito também sobre cultura, história, geografia, matemática, física e biologia. Realizada de quatro em quatro anos, a Olimpíada é o maior evento esportivo mundial. A próxima, que vai acontecer de 27 de julho a 12 de agosto de 2012 em Londres, reunirá mais de 10 mil atletas de duas centenas de países na disputa de medalhas em 36 modalidades. E será uma preciosa oportunidade de transformar a transmissão esportiva pela televisão em uma grande - e divertida - sala de aula.
A professora Kátia Rubio, especialista em psicologia do esporte, usa o termo "educação olímpica" para descrever a experiência - e tem até um livro sobre o assunto. "A Olimpíada é um tema transversal, porque se apropria de muitos outros assuntos de interesse além do esporte", afirma. "Lembrar que os jogos começaram a ser disputados ainda na Antiguidade, na Grécia, é uma aula de história. Da mesma forma, a apresentação das delegações na cerimônia de abertura é um riquíssimo painel da nossa diversidade cultural, mostrando os valores e tradições de cada país. E quando abordamos os limites de cada esporte e os efeitos do doping, estamos falando de processos biológicos", observa.
A cerimônia de abertura é um momento que remete naturalmente à história, pois sempre faz referência aos gregos e a edições anteriores da Olimpíada. É um bom momento, portanto, para explicar aos pequenos o que foi a civilização grega e porque ela ainda influencia as sociedades modernas. Estudantes do Fundamental II e do Ensino Médio irão se beneficiar se seus pais ou professores se lembrarem de histórias de edições passadas da Olimpíada que tiveram implicações políticas, como os jogos de Munique (1972), afetados pela guerra entre palestinos e israelenses; os jogos de Moscou (1982), boicotados por vários países, entre eles os EUA, por causa da Guerra Fria; a Olimpíada de Berlim (1936), com a qual Adolf Hitler tentou demostrar a superioridade do povo alemão, mas que teve como mais célebre medalhista um atleta negro (Jesse Owens, EUA); e os jogos de Sydney (2000), os primeiros a trazer as Paraolimpíadas (para atletas deficientes) logo ao final da competição regulamentar. Os exemplos são inúmeros.
Para Irineu Loturco Filho, diretor técnico do Núcleo de Alto Rendimento (NAR) do Grupo Pão de Açúcar, que prepara atletas brasileiros de ponta (inclusive olímpicos), dois grandes ensinamentos para as crianças vêm com a Olimpíada. "O primeiro é o idealismo", diz. "O esporte é feito de heróis, já que o atleta é um idealista, alguém que normalmente começou de forma humilde e se sacrificou por anos para mudar a sua vida e a de sua família", explica. O segundo grande aprendizado é o da disciplina, de acordo com Irineu. "A alta perfomance do atleta só se obtém com muita disciplina, com o cuidado excessivo em todas as áreas. Para as crianças, fica o exemplo de que a disciplina é importante também para as tarefas do dia a dia, como estudar, obedecer às regras em casa, na escola e na sociedade", conta. É algo que entra na formação do caráter, e ninguém precisa ser atleta olímpico para se beneficiar desse ensinamento. "No meio do esporte, a cobrança, a necessidade de sempre melhorar e o conceito de disciplina ajudam o jovem a se abster de riscos que sempre o rondam, como o álcool, as drogas e a violência." Outra lição que vem dos esportes, mas dos coletivos, como vôlei, futebol e provas de revezamento, é a importância de cumprir corretamente a seu papel e fazer o melhor para que o companheiro também consiga obter o máximo resultado.
Na sala de aula, a Olímpiada vai além do exemplo de heroísmo e coletividade e adquire contornos mais práticos. Alunos do final do Fundamental II e do Ensino Médio podem acompanhar, na prática, conceitos de física como velocidade, inércia, tração, impulsão e outros apenas assistindo às provas de atletismo. Para o professor de matemática e autor de material didático Guilherme Messias Pereira Lima, a Olimpíada traz todo um mundo de exploração, "desde noções básicas de estatística, ao analisar os quadros de medalhas, passando pelo princípio de contagem, noções de geometria, como ângulos, velocidade, unidades de medida etc.". Guilherme preparou planos de aula para estudantes a partir do 7º ano do Ensino Fundamental que se apropriam dos jogos para mostrar aplicações práticas de matemática. Como se vê, com a Olímpiada pode-se ensinar muito. E aprender ainda mais.
Fonte: Educar para Crescer