O violão é feito de caixa de pizza; a bateria, de latas; e os chocalhos, de tampa de margarina. Nas mãos dos alunos de um colégio da Asa Norte, os materiais reciclados ganham forma e melodia. Foram esses instrumentos que entoaram, durante a feira cultural, em agosto, a famosa canção de Bob Marley, Three little birds. Além da diversão, a música nas escolas - disciplina obrigatória nos ensinos fundamental e médio - permite o desenvolvimento cultural e incentiva o respeito às diferenças.
"É a matéria de que mais gosto: me divirto, brinco e fico ligado na melodia", conta Aldo Raphael de Souza, 7anos. O pequeno, que já toca bateria e guitarra, pretende montar uma banda no futuro. O colega Pedro Nakahara Borges, 7, também é fã dessa disciplina. "Gosto de tudo nessas aulas. Fiz castanholas com tampas de refrigerante, coisa que nunca tinha feito", afirma o estudante, que foi destaque na escola ao cantar Three little birds na feira cultural.
O responsável por tanta alegria e criatividade é o professor Max Maglen Benitez Albres. "A música é conscientização. Quando a criança é educada musicalmente, tudo na vida dela fica mais fácil", diz. "Ela pode auxiliar também em outras áreas de aprendizado, como com o português e com a matemática", completa.
O projeto anual de usar materiais reciclados para produzir instrumentos traz benefícios para os estudantes, que aprendem conceitos de sustentabilidade e a respeitar o meio ambiente. "Eles ficam felizes que podem eles mesmos construir um instrumento. Eles saem um pouco do videogame", brinca Max.
Vantagens
Embora a professora da faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Patrícia Pederiva admita que a música sirva como um estímulo à criatividade e ao desenvolvimento dos estudantes, ela defende que essas não são suas principais funções.
"Essa disciplina sempre foi o palhaço da escola. Tem sido colocada em segundo plano com a função de que vai melhorar o aprendizado em matemática, por exemplo, e com o intuito de que permite a socialização", diz. "Isso não é um pecado, porque o aprendizado da música tem vários objetivos, mas o principal é que a pessoa possa se desenvolver musicalmente, compor, criar, expressar, entender e respeitar as diferenças", completa.
Para Pederiva, não existe uma forma correta de lecionar esta disciplina. O ideal é mostrar que não há uma maneira de fazer música e que a aula permita troca de experiências e de conhecimentos entre os diferentes alunos. "É preciso ouvir primeiro a música que as pessoas fazem, que se dê a possibilidade de troca e assim haja o enriquecimento cultural. Não é o professor que leva receita", defende.
Desde 2008, a Lei 11.769 tornou a disciplina obrigatória para ensino médio e fundamental. Após três anos, o período previsto para a adaptação chegou ao fim. Mas ainda há algumas lacunas. "O que predominam nas salas de aula são professores de artes. A lei defende que precisa haver um professor para trabalhar com música na escola, mas não define esse profissional", conta. "Das 600 escolas do DF, cerca de 400 têm professores de artes, que acabam lecionando mais arte e teatro. Pouquíssimos são especialistas em música", lamenta.
Fonte: Correio Braziliense