Publicada em: 04/03/2013
Como parte da comemoração dos 50 anos da Universidade de Brasília, o professor Antonio Ibañez participa hoje do Conversa com ex-reitores. Na mesa, o livro Em tempos de pensamento inquieto, escrito por ele em parceria com o colega Clodomir Ferreira
Em tempos de pensamento inquieto: é assim que o professor Antonio Ibañez Ruiz, ex-reitor da Universidade de Brasília, define os quase 50 anos de vida dedicados à educação e à academia. Esse é também o título do livro escrito em parceria com o ex-professor da UnB e compositor Clodomir Ferreira, lançado em dezembro de 2012 e publicado por iniciativa dos próprios autores. A obra reconstrói o período de Ibañez à frente da reitoria na universidade, entre 1989 e 1993. As lembranças, os desafios da UnB naquela época e os novos caminhos da universidade pública no Brasil são tema de um bate-papo com o ex-reitor, que ocorre hoje.
Desde que Ibañez deixou o cargo de reitor da UnB, passaram-se 20 anos de transformações sociais, culturais e econômicas que refletiram no ensino e na universidade pública. “A UnB é uma academia completamente diferente daquela que eu encontrei no início da minha gestão”, lembra. O período coincidiu com a abertura política, a redemocratização do país, a eleição do presidente Fernando Collor, o auge da crise econômica do início dos anos 1990 e o fortalecimento do movimento estudantil, lembra o professor. “A UnB estava no centro de tudo isso”, destaca. Para Ibañez, tanta turbulência rendeu frutos que culminaram no atual perfil da instituição.
O debate de que o professor participará hoje faz parte das comemorações dos 50 anos da UnB, celebrados em 2012. O livro Em tempos de pensamento inquieto traz um relato pessoal, político e histórico sobre momentos como a conquista do antigo Hospital dos Servidores da União, que, em 1990, foi cedido à universidade e se tornou o Hospital Universitário de Brasília (HUB), utilizado desde então na formação dos alunos da área de saúde. O livro relembra ainda a visita de Nelson Mandela à capital federal, quando o sul-africano recebeu o título de doutor honoris causa pela UnB, e destaca a implementação dos primeiros cursos noturnos na universidade.
Antenada
Antônio Ibañez Ruiz é engenheiro de formação, nascido na Espanha e radicado no Brasil desde os anos 1960. Com passagens pela Secretaria de Educação do DF e pelos ministérios da Educação e da Ciência e da Tecnologia, o pensador observa que o maior desafio da educação no país é investir na formação de profissionais capacitados para atender, sobretudo, à educação básica. “O estímulo deve acontecer dentro da universidade, pensando na formação das crianças e dos jovens. Quando eu era reitor, notei a dificuldade que tínhamos em formar professores. As coisas não mudaram muito de lá para cá”, resume. Desde 2012, Ibañez é membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), órgão associado ao Ministério da Educação que ajuda a definir as políticas públicas do setor.
“Vivemos um período de expansão da universidade pública, mas é preciso atenção. O ensino superior deve refletir a sociedade, e isso significa mais do que simplesmente ampliar sua estrutura”, avalia. Segundo ele, a sociedade também precisa se abrir à universidade, e utilizar da reflexão produzida na academia para embasar políticas públicas e decisões que modificam a realidade do país. “Ainda temos um enorme potencial dentro das instituições de ensino que não está sendo aproveitado”, considera. Ele observa que um caminho possível é estimular a reciclagem de professores do ensino básico de forma periódica e aproximá-los mais da universidade. “O mínimo de conhecimento em metodologia científica pode trazer uma contribuição incomparável na formação básica.”
Partidário da opção pela divisão do ensino básico em ciclos diferentes e a favor da adoção de um sistema semestral nas escolas do DF, o professor acredita que a medida pode estimular a interdisciplinaridade, um desafio antigo que continua pendente na educação brasileira. “A discussão do ensino interdisciplinar é mais velha do que eu, e até hoje não foi resolvida. Ninguém sabe ainda como fazer. Falta capacitar profissionais para isso, senão, a interdisciplinaridade nunca vai ser efetiva.”
Na opinião do especialista, a eficácia do currículo de ensino adotado na educação básica brasileira precisa ser reavaliada. A necessidade é de atender as novas demandas do jovem brasileiro, que se interessa cada vez menos pelos conteúdos oferecidos em sala de aula e acaba abandonando a escola antes de se graduar. Para o professor, o problema está principalmente no ensino médio regular noturno e na educação de jovens e adultos, que são, na opinião dele, ineficazes. “Precisamos considerar se tudo o que vem sendo ensinado é realmente absorvido pelo aluno e agregar ao ensino ferramentas que tenham a ver com a realidade de cada um. A educação precisa se modernizar antes que tenhamos de lidar com problemas maiores, como altos índices de abandono escolar”, enfatiza.
Fonte: Eu Estudante