Publicado em: 15/04/2013
A substituição do primeiro vestibular do ano na Universidade de Brasília (UnB) pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) mudará a postura dos concorrentes a uma vaga na instituição de ensino superior. A decisão, tomada pela maioria dos representantes do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) na noite da última quinta-feira, provocou polêmica. Na opinião de especialistas ouvidos pelo Correio, a UnB ganha com a democratização do ensino. Apesar de estabelecerem ressalvas, os educadores não acreditam na queda do nível de conhecimento exigido para o ingresso. Os estudantes,no entanto, estão confusos quanto às mudanças. Cento e uma universidades em todo o país adotam o sistema alternativo.
Os interessados em entrar na instituição brasiliense em 2014 precisam se inscrever para a edição deste ano do Enem, cujo edital ainda não foi divulgado. Agora, a UnB conta com três formas de acesso: o próprio Enem, o Programa de Avaliação Seriada (PAS) e o vestibular, mantido apenas o do meio do ano. As cotas para negros continuam nos processos seletivos da instituição. Atualmente, 20% das oportunidades da UnB são destinadas a negros, pardos e indígenas. A administração central estudará os detalhes da distribuição desses espaços com a nova forma de acesso e publicá-los em forma de edital. No caso das cotas sociais, as três maneiras de ingresso passam a ter 25% de reserva para os estudantes de escolas públicas. A adesão foi aprovada por 32 votos a 6 pelo Cepe. Como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) é gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC) e informatizado, os candidatos do Enem podem disputar todas as vagas das instituições públicas
conveniadas. O programa seleciona os concorrentes de acordo com a nota obtida no Enem. A forma de avaliação e o peso para cada matéria são definidos segundo os parâmetros estabelecidos por cada universidade. Especialista em educação, Remi Castioni comemorou a novidade. Ele participou do Cepe e votou pela aprovação da proposta. “A competição vai continuar acirrada, principalmente nas carreiras mais disputadas. O vestibular, como vinha sendo feito, além de trazer um custo muito alto para a universidade, não era eficiente no preenchimento das vagas”, argumenta o professor.
Perfil
Um dos resultados da adesão é a facilidade de acesso de pessoas de outras unidades da Federação à UnB. Para recebê-los, a estrutura da instituição também precisa aumentar. Ainda assim, o decano de Ensino de Graduação,Mauro Luiz Rabelo, não aposta em um crescimento significativo de estudantes de outras partes do país. “Hoje, temos, em média, 10% do quadro discente vindos de outras regiões. Até pela experiências de instituições que já aderiram ao Enem, talvez aumente, mas pouco”,explica (leia entrevista). A expectativa é de que os recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) dobrem, ou seja, passem dos atuais R$ 13 milhões para R$ 26 milhões.
Para alguns estudantes do DF, essa possibilidade significa mais concorrência, mas não necessariamente maior dificuldade de aprovação. “Antes, as pessoas de outras regiões não tentavam a UnB e se assustavam um pouco com o formato da prova”, avalia Alessandra Cristina Rodrigues. A jovem de 18 anos fará o quinto vestibular para odontologia. Para ela, pessoas com experiência nas provas podem ser beneficiadas.
A boliviana Waira Saravia, 19 anos, quer estudar biologia na UnB. “O vestibular daqui é único. A prova é muito inteligente e boa de fazer. Ela mistura os conteúdos e você precisa saber cultura geral para se sair bem. Quanto ao Enem, eu não conheço nada ainda”, reconhece. Na opinião de Raquel Dias,19, os próximos calouros da UnB terão perfil variado. “A cobrança do vestibular é muito maior. A universidade terá de lidar com essa diferença”, prevê. Ela deseja cursar arquitetura e não sabe se o Enem manterá as provas de habilidade específica.
Confira as avaliações sobre a medida, segundo especialistas em educação e estudantes ouvidos pelo Correio:
Prós
» Democratização da educação
» Investimentos da contrapartida do MEC na universidade
» Possibilidade para o estudante concorrer em diferentes universidades
» Exigência de conhecimentos menos específicos
Contras
» Substituir o vestibular consolidado da UnB por uma prova marcada por escândalos
» Aprovação de alunos com diferentes níveis de conhecimento
» Aumento da concorrência com a possibilidade de estudantes de todo o país participarem
» Dificuldade dos alunos se prepararem para provas muito diferentes
Mauro Luiz Rabelo, decano de Ensino de Graduação (DEG)
Há quanto tempo a universidade discute essa mudança?
A proposta foi encaminhada em outubro do ano passado para a reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), por uma comissão que fez estudos sobre formas de ingresso da universidade. Naquele momento, o plano foi encaminhado às unidades acadêmicas para que fizessem avaliação. Acolhemos as opiniões, sistematizamos o material e isso deu origem à decisão aprovada na quinta-feira.
O que muda com a adesão ao Enem?
As mudanças aprovadas democratizam e ampliam o acesso à universidade, fortalecem as avaliações processuais defendidas por educadores e reduzem o número de provas realizadas por alunos que cursam o terceiro ano do ensino médio. A extinção do vestibular do início do ano vai diminuir a quantidade excessiva de testes. A prova do meio do ano continua como está.
A adesão vai refletir na reserva de vagas nos processos seletivos instituídas anteriormente?
As instituições de ensino superior têm autonomia para implantar as políticas afirmativas que considerarem importantes. A partir do ano que vem, teremos 25% de cotas sociais, como determina a legislação. Mas os editais que estão por vir vão fazer o detalhamento da distribuição das vagas. Ainda estamos estudando tudo isso, mas esperamos divulgar o primeiro documento ainda em abril.
Fonte: Eu Estudante