Publicação: 07/11/2013
Atividades extracurriculares ganham espaço no dia a dia de alunos do ensino fundamental. Especialistas afirmam que cautela e apoio da família são fundamentais para a concretização do aprendizado saudável dentro e fora da sala de aula
Fruto de gerações definidas por letras do alfabeto, em um mundo globalizado onde o tique-taque dos ponteiros dos relógios parecem correr mais do que a velocidade do tempo, elas manuseiam aparelhos eletrônicos com habilidades que adultos duvidam. É no período do ensino fundamental - educação obrigatória às crianças a partir dos 6 anos, com 9 anos de duração - que, além da alfabetização, os estudantes começam a ter contato com matérias da grade curricular.
No entanto, além do aprendizado obrigatório nas escolas, elas são ensinadas que tempo vale mais do que dinheiro e para vencer na vida é fundamental saber utilizar cada segundo. São atividades que ultrapassam as tradicionais ciências humanas e exatas, muitas vezes, longe dos livros e cadernos, mas essenciais para o desenvolvimento cognitivo da criança.
Com apenas sete meses como nadadora profissional, Ana Carolina Marcondes, de 14 anos, se destaca nas piscinas dentro e fora do Centro-Oeste. Mas, para que o sucesso no esporte seja concretizado, muitas vezes é preciso deixar os livros de lado e realizar dedicação integral à natação. Apesar das intermináveis e intensas horas dentro da água, a aluna do 9º ano do ensino fundamental do Centro Educacional Leonardo da Vinci consegue conciliar os estudos ao nado profissional. A mãe e companheira de todas as horas, Adriana Marcondes Amaral, relata sobre a incompatibilidade de horários entre treinos e competições da filha em relação ao período escolar da aluna e competidora. “Além dos pesados treinos na piscina, existe acompanhamento com fisioterapeuta, nutricionista, personal trainer, além de aulas de inglês. É evidente que o rendimento na sala de aula não é o mesmo como antes. Às 4h30 da manhã, ela já está nadando. Após o treinamento na madrugada, vai direto para a escola e depois volta a treinar sempre”, conta a mãe da campeã.
Efeito contrário
Diferente da realidade de treinos diários escolhidos por vontade própria pela estudante, existem alunos do ensino fundamental que realizam atividades extraclasse por incentivo da família. Para Sandra Ferraz Freire, pedagoga e especialista em psicologia da educação da Universidade de Brasília (UnB), é importante o momento de socialização da criança longe do ambiente escolar. “Elas devem ter oportunidade de vivenciar situações de conhecimento, além da escola regular. Se as atividades educativas forem bem conduzidas, vão trazer benefícios à criança. Mas, em excesso, podem provocar estresse por se sentirem pressionadas”, alerta a pedagoga.
Além da família, escola e da iniciativa do próprio aluno, alcançar o desenvolvimento cognitivo individual depende do profissionalismo alheio. “Muitas instituições educacionais valorizam mais o conteúdo dentro de sala de aula do que o caráter vivencial. A família precisa estar consciente de que vivenciar experiências construtivas também devem ser valorizadas. Há muitos especialistas em conteúdo, mas não em desenvolvimento humano”, conclui Sandra.
Moderação e resultados
Por ser um processo longo e de trabalho extensivo por parte dos envolvidos - pais, professores e aluno - a formação educacional do ensino fundamental, tanto dentro quanto fora de sala de aula, requer elaboração de projetos especializados para a idade do aluno. É o que explica a coordenadora de ensino fundamental da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), Rosana Fernandes. “Essas atividades desenvolvidas fora do turno da sala de aula precisam ser bem planejadas pelas famílias para que não se constituam como sobrecarga de atividades aos estudantes. Se for entendida como forma de preenchimento de tempo, enquanto os pais estão envolvidos com compromissos podem gerar insatisfação”, enfatiza a coordenadora da SEDF.
Não apenas insatisfação, mas também outros fatores negativos podem ser notados pelos professores e familiares quando o estudante demonstra sentimento de desconforto em realizar atividades em excesso, além do período obrigatório escolar. Segundo a coordenadora pedagógica do 3º ao 5º ano do ensino fundamental do Leonardo da Vinci, Luciana Salge Tenório, as práticas de aprendizagem, além do ambiente educacional normalmente são positivas por proporcionar interação social e ampliar conhecimentos. “Elas se tornam mais confiantes. Mas há que se pensar sobre a frequência e a própria atividade proposta. Muitos pais, na tentativa de oferecer o maior número de possibilidades ao filho, acabam sobrecarregando a criança. Ela deixa de cumprir coisas básicas, como a tarefa de casa”, ressalta Luciana Tenório.
Para que a criança consiga equilibrar a dinâmica complementar entre práticas de formação pessoal dentro e fora da sala de aula, o coordenador disciplinar do Leonardo da Vinci, André Pedroza lembra sobre a importância diária do descanso para o corpo e a mente do estudante.